Muito
tem se falado sobre a virgindade de Nossa Senhora. A tradição nos fala de Maria
ter oferecido sua virgindade a Deus desde moça. Muitos autores espirituais
consideram que assim Nossa Senhora humildemente substraia-se à possibilidade de
ser Mãe do Salvador, sacrificando-se ao renunciar a tão alta honra.
Eu
considero que a situação é exatamente ao contrário. As promessas messiânicas
falavam que “uma virgem dará a luz”. Maria não desconhecia as escrituras.
Permanecendo virgem não renunciava, senão se doava a essa possibilidade. Com
esta visão o sacrifício não desaparece, pelo contrário, se acentua.
Devemos
considerar os fatos com a visão da época. Hoje em dia, uma mulher decidir não
ter filhos é considerado apenas uma “opção de vida”, e se a mulher tem uma vida
profissional muito ativa, fica até bem justificada aos olhos da nossa
sociedade.
Na
sociedade israelense daquela época era totalmente oposto: não ter filhos era um
opróbrio, uma desonra. No primeiro Livro de Samuel, aparece Ana, esposa de
Elcana, chorando seu desespero na escadaria do templo porque era atormentada
pela outra esposa, Fenena, pois Ana era estéril, ao passo que sua rival tinha 2
filhos, (1 Samuel, 1). Isabel, mãe de São João Batista, ao ver-se grávida exclama:
Eis a graça que o Senhor me fez, quando
lançou os olhos sobre mim para tirar o meu opróbrio dentre os homens. (São
Lucas1, 25). A fertilidade era vista como um dom de Deus aos justos, e a
esterilidade como um castigo ao pecador.
Maria,
ao decidir permanecer virgem, sabia que seria desprezada, mal falada. O que se
passou pelo coração dessa moça para tomar essa decisão?
Possivelmente
veria com pena que todas as mulheres corriam ao matrimônio para não se
arriscarem a serem improdutivas. Ninguém queria se “arriscar” a ficar virgem
para “tal vez” Deus decidir fazer-la mãe do Messias.
Maria
no seu imenso amor a Deus e sua perfeita disponibilidade aceita “correr o
risco” e se entrega totalmente à vontade divina, sabendo que não tinha nenhuma
garantia.
Possivelmente
compartilhou com José sua decisão. Alguns autores acham que José ao saber da
gravidez de Maria, percebeu que ela tinha sido escolhida como a mãe do
Salvador, e não se achou digno de ter que exercer autoridade sobre o seu Deus
(autoridade de pai sobre o filho) e decide afastar-se. Mas, como ele iria
permitir que fosse difamada a mãe do seu Senhor? Por isso a sua atitude de
deixar Maria “em segredo”, resolvia os dois problemas.
Maria
e José, escolhidos desde o início dos tempos, e unidos pela Graça de Deus,
foram os instrumentos perfeitos da nossa salvação. Assim como dizemos que Jesus veio a nós pelo "sim" de Maria, também podemos dizer que veio pelo "sim" de José.
Autora:
Lilia Diana